Li esta analogia escrita pelo meu amigo Ricardo Pettená - uma das maiores Referências no Paraquedismo Mundial e achei fantástica sua aplicação no paraquedismo. O que me fez refletir: e por que não, na vida? Cheguei a conclusão de que é possível utilizarmos estes princípios no Trabalho e em qualquer segmento de nossa vida. Quem começa ?
O Barão Antoine-Henri Jomini escreveu os nove Princípios da Guerra, os quais norteiam as Forças Armadas dos Estados Unidos há mais de 200 anos. Considerando que encaro a segurança no paraquedismo como uma guerra, fiz uma adaptação dos 9 princípios, para que eles sirvam de orientação para podermos novamente atingir o objetivo de “zero” acidentes no nosso esporte.
Atenção: muitos dos termos utilizados, são analogias para que possamos fazer uso dos princípios nos conceitos e ações de segurança.
Objetivo
O objetivo na guerra é (sempre) eliminar o inimigo. Isso pode ser entendido no paraquedismo, como neutralizar as ações do inimigo. Como diz Sun Tzu no livro A Arte da Guerra, para poder vencer o inimigo, é preciso saber quem é o seu inimigo e como ele se comporta. O inimigo número um do paraquedismo, são os acidentes. O objetivo deve ser claro, simples e facilmente entendido pela tropa (paraquedistas e instrutores): “zerar os acidentes.” Cada ação na direção deste objetivo principal, tem objetivos secundários, que devem ser claros e concisos.
Para neutralizar o inimigo, temos que apelar para os outros princípios da guerra (abaixo).
Ofensiva
Este princípio quer dizer que temos que ser proativos e atacar o inimigo naquela fração (nome dado a uma parte do exército inimigo) que pode gerar acidentes, informando, instruindo e treinando os instrutores e paraquedistas sobre prevenção e procedimentos de emergência. Cada vez que uma nova ação que é parte do plano é feita com sucesso, o inimigo perde uma posição. Em outras palavras, as chances de ocorrerem acidentes começam a diminuir. O general divide a tropa do inimigo e partes e ataca sempre numa parte das forças inimigas que esteja mais enfraquecida, engajando-se apenas quando tem certeza da vitória. Preferencialmente, ele corta a comunicação, a cadeia de suprimentos e destrói vias de acesso.
No nosso caso, fazemos ações como “o dia da segurança”, palestras, cursos, treinamentos, divulgação em redes sociais, treinamentos de RTAs, etc.
Massa
Usar toda a tropa e recursos (necessários) para garantir que a fração do exército inimigo a ser atacado, seja vencido. No nosso caso, usar todos os tipos de ações que estiverem ao nosso alcance para atingir todos os paraquedistas, incluindo dirigentes, instrutores, examinadores, pilotos, dobradores, riggers e equipes de apoio em terra.
Nosso conceito de princípio de uso de “massa” adaptado ao paraquedismo, é a criação de uma consciência coletiva de segurança, por meio da qual, todos cuidam de todos. Todo ataque deve garantir uma vitória. Assim sendo, as ações devem ser bem planejadas de modo a serem eficazes para atingir seus objetivos específicos. Agentes multiplicadores do conceito, junto com instrutores, treinadores BBF, dirigentes, donos de áreas e escolas, presidentes de associações e federações, riggers, dobradores, pilotos e RTAs, são os responsáveis por difundir o conceito de consciência coletiva de segurança.
Unidade de Comando
Todas as unidades subordinadas devem agir de acordo com um Comando Central, o qual determina a estratégia e o plano de ataque. Aqui, neste tópico especialmente, o paraquedismo está sofrendo um grande revés, determinado pela proliferação de associações que não falam entre si e, pior, tem conjuntos de Normas próprias e diferentes, o que descaracteriza o conceito principal da prevenção, que é a padronização.
Sou a favor do diálogo entre as associações para que haja um só conjunto de regras e uma coordenação central para as ações de segurança.
Manobras
Manobras podem ser chamadas de agilidade nas respostas às tendências detectadas como áreas de risco. O princípio da “manobra” também pode ser intitulado de jogo de cintura. Os “forças-especiais” e as equipes de “comandos” devem receber recursos especiais para fazerem ações de incursão nas áreas de risco.
Ser versáteis, maleáveis e ter flexibilidade para combater o que chamamos de “normalização dos desvios”. Reforçar as barreiras de proteção do “queijo suíço”, como é chamada a teoria que ilustra o alinhamento de falhas que resultam em acidentes.
Supresa
Ataque o inimigo, quando e onde ele está despreparado. O princípio da surpresa pode parecer que não tem uso na guerra contra os acidentes, afinal de contas, como fazer uma comparação entre um exército inimigo que é formado por pessoas, e que pode ser surpreendido por ações de velocidade, assimetria e superioridade de informação, com um acidente? Pois bem, a ideia aqui é pegar de surpresa a pane, por exemplo, que vai acontecer, mas que pode ser sanada quando fazemos o cheque de equipamentos.
Neste tópico, nós substituímos a ação de pegar o inimigo de surpresa, pelos rituais de segurança, doutrinas, procedimentos padrão, cheques de seguranças, manutenção do equipamento, atenção na dobragem, aeronaves e pilotos em preparados e revisados, equipe de terra bem treinada e atenta, e muitas outras ações preventivas que pegam o nosso inimigo (emergências que contribuem para os acidentes) antes que eles possam acontecer (analogamente ao inimigo reagir).
Segurança
O exército leva a sério os aspectos de manutenção da “área verde” que tem que estar sempre guarnecida, defendida e vigiada. Para nós, a área verde é determinada pelo alto nível de segurança das
atividades de salto, nas quais a prevenção é levada muito a sério. O princípio da segurança aplicado ao paraquedismo, é a prevenção. Sabemos que, mesmo nas atividades de salto onde a segurança é prioridade, podem acontecer emergências, desde a decolagem da aeronave, até após o pouso do paraquedista. Assim, todo paraquedista deve estar preparado para lidar com cada uma delas. As forças armadas utilizam espiões para angariar informações. No paraquedismo usamos os relatórios de perigo.
Segurança é ter cuidados especiais com todos os aspectos de uma atividade de paraquedismo e com o salto em si (cuidado com as emboscadas e com as sabotagens que são situações inesperadas). Não sejamos pegos de surpresa. Para manter a segurança, os exércitos se valem de reforçar as suas posições, antecipando ataques e diminuindo as possibilidades de serem pegos de surpresa pelo inimigo. É a prevenção. Temos que ter bons “soldados” (instrutores, RTAs, etc.) nas nossas equipes. Reforçar a segurança é disseminar o conhecimento por intermédio dos agentes multiplicadores da segurança, e de todos os meios disponíveis.
Economia de esforços
Recursos são limitados. O uso racional de recursos, tanto materiais, financeiros e humanos, deve ter um critério para a sua distribuição nas batalhas. Usar “massa”, mas dosar apenas o suficiente para garantir a vitória. Nunca menos, mas também com cuidado para sempre manter uma reserva de modo a poder usá-la caso seja necessário.
Em caso de necessidade, essa “reserva” de recursos treinados, os “agentes multiplicadores da segurança”, tem que estar aptos a responder às tendências de acidentes que começam a aparecer, “aqui ou acolá”, com a normalização de desvios em determinadas áreas. Essa resposta pode ser na forma de visitas a áreas e escolas, matérias sobre segurança, “chamadas à ação”, cursos, treinamentos, palestras, etc.
Simplicidade
Planos devem ser simples, facilmente entendidos pelos comandantes dos escalões inferiores, que terão que, por sua vez, repassá-los para chefes de frações hierarquicamente abaixo, até chegar a cada soldado. Planos simples tem mais chances de funcionar.
A lição a ser aprendida aqui é, que os planos devem ser simples para que sejam facilmente compreendidos e executados pelas equipes que vão participar da ação. Os planos regulam as ações de segurança, dentro de um calendário de ações propostas pelas autoridades designadas a zelar pela segurança do paraquedismo nacional."
Por Ricardo Pettená.