Autora: Rosemeire Zago
Solidão! Todos nós de alguma forma já nos sentimos sozinhos, outros se sentem sós com muita freqüência. Mesmo quem diz não ter tempo para se sentir sozinho, que solidão é sinal de depressão, doença, coisa para quem não tem amigos, família, com certeza já se sentiu só em alguma fase da vida, em alguma situação. Quem nunca ficou até mais tarde no trabalho, não porque tem algo a fazer, mas na verdade mesmo ficou por não querer ir para casa? Ou saiu do trabalho e foi logo se encontrar com os amigos? Quem nunca se sentiu só após uma separação? E quem nunca entrou em casa e foi logo ligando a TV, o rádio, o computador? Fazemos isso por querer saber as notícias, ouvir música, receber e-mails, conectar-se com outras pessoas? Nem sempre, essas podem até ser as justificativas que a maioria diz, mas lá no fundo, o que desejamos mesmo é fugir da solidão!
Mas será mesmo que é fugir da solidão ou fugir de própria companhia e dos sentimentos e lembranças que poderão aflorar? Pois estar só significa estar acima de tudo em nossa própria companhia e, infelizmente, muitos não conseguem ou sequer se dão conta do real motivo que estão sempre em atividade. É, a solidão é antes de tudo a oportunidade que temos de nos confrontar com tudo que está bem dentro de nós e, assim, nos conhecer, cada dia um pouco mais. Mas para algumas pessoas, talvez a maioria, estar consigo mesmo, se conhecer, é sentido como algo doloroso, difícil, e até mesmo, insuportável.
Muitos moram com outras pessoas, não porque gostam de estar com essas pessoas, mas para não se sentirem sós. Outros mantêm seus relacionamentos pelo mesmo motivo e não por sentirem amor com quem dividem a mesma casa e a mesma cama. Mas por qual motivo a solidão é tão temida, causando verdadeiro pânico, fazendo com que pessoas mantenham relacionamentos destrutivos, infelizes?
Desde pequenos somos ensinados a sermos amigos de todos, a quem devemos dividir nossos brinquedos, sermos bonzinhos; na adolescência, o que mais desejamos é ter muitos amigos e com isso nos sentirmos aceitos; vamos crescendo, casamos, temos filhos, e conforme o tempo vai passando, surgem as separações, perdas, decepções e, por opção ou falta dela, muitos vão continuando seus caminhos sozinhos. Mas o que fazer com quem é um total desconhecido de nós mesmos? Passamos anos valorizando o que os "outros" querem, sentem, falam e parece que se esqueceram de nos ensinar a olhar para dentro de nós; portanto, não se culpe se você não sabe ficar só, é natural. Mas sempre é tempo de aprender. Aprender a se ouvir, se conhecer.
Como é natural também sentir medo de olhar para quem você sequer foi apresentado. Como querer conhecer alguém que só ouviu críticas a respeito de si, fazendo-o sentir que tudo que faz, pensa, fala, sente, é errado? Não, não é nada fácil! A própria sociedade discrimina quem não tem tantos amigos, sendo muitas vezes taxado como anti-social. Os tímidos que o digam... como sofrem por serem mais fechados. Os extrovertidos, sim, estes têm muitos amigos, parecem agradar a todos e, por isso, são felizes. Será? Esses mesmos "alegres crônicos" também chegam em casa, e muitos se deparam com o silêncio como companhia. E será que continuam se sentindo tão bem quanto demonstram? Nem sempre. Sem falar que mesmo acompanhados podemos nos sentir sozinhos, e isso parece doer ainda mais. Que paradoxo, não? Quando estamos sós queremos companhia e, mesmo com companhia, continuamos a nos sentir sozinhos.
Mas o fato é: como lidar com a solidão? Será que o mais apropriado não é: como lidar com nossa própria companhia? Nessa pergunta, creio que já está a resposta. O fato não é como lidar com a solidão, mas sim como lidar com nós mesmos. Sim, é muito bom estarmos com outras pessoas, principalmente com aqueles que nos amam e que amamos também, mas nem sempre isso é possível e pelos mais diversos motivos. O que é preciso refletir é que não se pode estar na companhia, de quem quer que seja, apenas para não ficar só, isso sim é pura falta de coragem para olhar para dentro de si e enfrentar os mais diversos sentimentos que tal encontro poderá despertar. É perder a oportunidade de se conhecer e aprender a valorizar tudo que viveu até aqui.
A solidão pode doer para qualquer pessoa, mas dói muito mais para quem não gosta de si mesmo, quem não se admira, não vê em si mesmo qualidades, quem não percebe seu próprio valor, não se ouve, não aprendeu a se amar e se respeitar. A busca por ter outras pessoas por perto pode também demonstrar uma enorme necessidade em ser aceito, reconhecido, amado.
Creio que o maior antídoto para a solidão seja exatamente isso: autoconhecimento. Para isso, procure se observar mais, valorizar suas conquistas, identificar seus sentimentos, ouvir sua própria voz e respeitar aquilo que ouve e sente. Assim, aos poucos irá conhecendo um pouco mais sobre você mesmo e gostando desse ser especial que é você.
Na verdade, só se sente sozinho quem não aprendeu a apreciar a própria companhia! Espero sinceramente que você aprecie estar acima de tudo consigo mesmo!
quinta-feira, 29 de abril de 2010
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