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domingo, 26 de abril de 2020

TESTES PARA DIAGNÓSTICO DA COVID-19: ENTENDA AS DIFERENÇAS




Em dezembro de 2019, foram observados os primeiros casos de pneumonia na cidade de Wuhan na China, com a identificação de um novo betacoronavírus, o SARS-CoV-2. A doença causada por este vírus, denominada COVID-19, se manifesta num espectro clínico que pode variar de infecções assintomáticas a quadros respiratórios graves, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave.
O diagnóstico laboratorial, assim como em várias outras infecções, tem papel fundamental não somente para que o indivíduo infectado tenha um diagnóstico assertivo, mas, também, para o manejo e controle da doença entre as populações atingidas.
Até o presente momento, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), registrou e aprovou para uso em laboratório de análises clínicas, vários testes para auxiliar o diagnóstico da presença do SARS-CoV-2. De maneira geral, esses testes diagnósticos podem ser divididos entre os que detectam diretamente o vírus e aqueles que o fazem de forma indireta. Essas abordagens diagnósticas (direta e indireta) são muito comuns quando há suspeita da presença de um agente infeccioso.
A escolha do teste é fundamental para que a conclusão diagnóstica seja efetiva. Para tanto, é necessário conhecer as características de cada método e sua aplicação no que diz respeito ao curso da doença.
O teste “direto” é aquele que detecta o vírus (genes ou sequências virais). O exemplo de teste direto mais utilizado para a pesquisa do SARS-CoV-2 é o RT-PCR (Reverse transcription polymerase chain reaction) que ocorre em três etapas: extração do RNA viral, transcrição reversa do RNA em DNA complementar (cDNA) e a amplificação da sequência alvo específica (genes virais). Como o vírus infecta células epiteliais do sistema respiratório, a amostra biológica mais adequada para este teste é o raspado celular da região nasal e orofaringe colhido através de um swab (cotonete estéril) ou aspirado brônquio-pulmonar. Preferencialmente, este exame deve ser solicitado aos pacientes que estejam na primeira semana do aparecimento dos sintomas (tosse, febre, dificuldade respiratória). Contudo, estudos estão demonstrando que o período de detecção viral é variável, dependendo da origem da amostra e da gravidade da doença. Pode ocorrer detecção prolongada do vírus, até 30 dias do início da infecção, nos casos mais graves. Apesar do tempo de execução desta análise ser maior que os testes laboratoriais tradicionais (de 10 a 24h), o valor preditivo positivo (VPP) que é a proporção de verdadeiros positivos entre todos os indivíduos com teste positivo, ou seja, expressa a probabilidade de um paciente com o teste positivo ter a doença, é a maior vantagem deste teste. Apesar disso, alguns fatores podem interferir gerando resultado falso negativo: amostra coletada precocemente ou tardiamente durante a evolução da doença ou contendo pouco material celular; conservação e transporte inadequado da amostra; baixa carga viral, abaixo do limite de detecção do teste. Outra dificuldade é a necessidade de estrutura laboratorial e profissionais especializados para a execução do teste.
Os testes indiretos são baseados na identificação de imunoglobulinas (Ig) que são estruturas proteicas produzidas pelo sistema imunológico do indivíduo a partir do contágio com o vírus. As imunoglobulinas mais utilizadas no diagnóstico da COVID-19 são as IgM e IgG, respectivamente, denominadas de fase aguda e fase crônica. Os métodos indiretos podem ser a Imunocromatografia (teste rápido), quimioluminescência ou ELISA (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay). A pesquisa de imunoglobulinas é recomendada para os pacientes sintomáticos com mais de 7 dias do aparecimento dos sintomas com resultado negativo no teste RT-PCR; para avaliar os indivíduos infectados quanto ao retorno às atividades laborais; em estudos epidemiológicos para tomada de decisões quanto ao manejo da doença. Em todos os casos, um resultado não reagente para a pesquisa de imunoglobulinas não exclui a infecção. As vantagens dos testes indiretos é o tempo de processamento que pode variar de 10 minutos (teste rápido) a 3 horas, e a obtenção da amostra biológica, tradicional coleta de sangue venoso ou até mesmo punção de polpa digital (opção para o teste rápido). Apesar dessas facilidades, os resultados podem sofrer a variação do  tempo de exposição do indivíduo ao vírus. A produção de IgM começa entre o 7° e o 10° dia de infecção, e a de IgG entre o 13° e o 21° dia de infecção. Esses dados estão em constante revisão, visto que novos conhecimentos a respeito do comportamento do sistema imunológico do paciente infectado surgem a cada dia. Coletas de sangue realizadas fora dos intervalos de produção das imunoglobulinas, podem gerar falso negativo.
A pandemia do COVID-19, constitui um desafio em vários aspectos, inclusive no que diz respeito ao diagnóstico laboratorial. O conhecimento da história clínica do paciente e das aplicações e limitações dos testes disponíveis é fundamental para o correto diagnóstico.


AUTOR:
Barbosa.Sivia Helena. Biomédica. Especialista em Imunologia Aplicada e Biologia Molecular

Artigo publicado no site  suzimaraesarahyba.com.br


FONTE:

- Wang W, et al. Detection of SARS-CoV-2 in Different Types of Clinical Specimens. JAMA. 2020 Mar 11. doi: 10.1001/jama.2020.3786.
- Métodos Laboratoriais para Diagnóstico da Infecção pelo SARS-CoV-2. Recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (http://www.sbpc.org.br/wp-content/uploads/2020/04/MetodosLaboratoriaisDiagnosticoSARS-CoV-2.pdf). Acessado em 25/04/2020

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